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“É uma satisfação poder fechar uma história de amor com chave de ouro”
Por causa de um amor surgido em plena Ditadura Militar, Ana e Maura enfrentaram o preconceito e a rejeição da família. Mas 37 anos depois, a relação continua forte e agora é reconhecida pela lei
Juliana Moraes
, do iG São Paulo
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Apesar de dividirem o mesmo teto há quase quarenta anos, as culinaristas paulistas Maura e Ana só recentemente conquistaram o direito de oficializar a sua união e garantir os mesmos direitos legais que os casais heterossexuais recebem.
“Quando nós entramos com o pedido de casamento, em janeiro, a lei ainda não estava em vigor”, explica Maura, se referindo decisão do judiciário do estado de São Paulo, que desde 1º de março garante equivalência de diretos entre casais gays e héteros que se casam no civil.
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“Resolvemos casar no civil porque queríamos conquistar
todos os direitos de um casal. E ainda existem as questões médicas
envolvidas, de hospitalização, de herança e tudo mais. Quem tem que
decidir o meu futuro na hora da doença é quem mora comigo, quem me
conhece”, afirma Maura com uma certeza inabalável.
Quem tem que decidir o meu futuro na hora da doença é quem mora comigo, quem me conhece (Maura)
Mas a impossibilidade de “casar no papel” não é nem de longe a maior dificuldade que as duas enfrentaram por causa de seu amor. Por esse sentimento, Ana e Maura enfrentaram os familiares e sofreram preconceito nas ruas. Sem apoio dos pais, as duas começaram a namorar em um momento político conturbado no País.
“Em 1975, ainda existia a Ditadura Militar, era tudo muito mais complicado. A gente era obrigada a se encontrar escondidas”, lembra Ana. “Sofremos pressão das famílias. Quando a gente saía para um chá, sempre tinha alguém seguindo, tínhamos que mudar de hábitos para ninguém pegar a gente. Era uma vergonha você ter um filho homossexual, éramos tratadas como se tivéssemos uma doença infecciosa”, completa Maura.
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“Em 1975, ainda existia a Ditadura Militar, era tudo muito mais
complicado. A gente era obrigada a se encontrar escondidas” (Ana)
A maneira encontrada para fugir da não
aceitação dos pais veio com um grande pesar: o afastamento de toda a
família. Mantendo contato à distância com os irmãos e os sobrinhos, Ana e
Maura até se mudaram da capital paulista para a praia. “Quando você não
tem apoio das únicas pessoas que poderiam te ajudar a passar por
isso...”, emociona-se Maura, interrompendo sua fala.
Prosseguindo, Maura fala mais das dificuldades
que elas enfrentaram em todos esses anos. “Nós nos amamos, então
tivemos que nos afastar de todos aqueles que tentaram nos prejudicar.
Vivemos só nós duas. Nunca tivemos uma casa para comemorar Natal, fim de
ano, ninguém que nos chamasse para algum evento de família. Então nós
duas levamos as nossas vidas, e isso não interessava a mais ninguém. Com
amor, blindamos a vida e não deixamos ninguém se intrometer. São raras
as pessoas que entram em casa”, desabafa ela.
Se por um lado, o convívio familiar foi
conturbado, por outro, os anos de luta trouxeram maturidade ao casal.
“Nós temos cumplicidade. Passamos pela etapa da paixão, depois pela da
serenidade e amor, agora estamos na fase do amor e da cumplicidade.
Chegamos ao ponto em que ninguém precisar abrir a boca. Basta um olhar”,
diz Ana.
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Elas veem o casamento como uma forma de coroar os 37 anos
de união. “Para nós teve um motivo maior. A gente sentiu como se
estivesse fechando um ciclo que a gente não via como poderia ser
fechado. A gente pensou que nunca teria um fim e a gente viu que dava,
sim. É uma satisfação poder fechar uma história de amor com chave de
ouro", analisa Maura.
“Vivemos só nós duas. Nunca tivemos uma casa para comemorar Natal, fim
de ano, ninguém que nos chamasse para algum evento de família. Então nós
duas levamos as nossas vidas, e isso não interessava a mais ninguém.
Com amor, blindamos a vida (Maura)
A cerimônia foi marcada por gargalhadas e também por lágrimas. Discretas, as noivas optaram por não dar o beijo na boca após o tão esperado “sim”. “Temos que celebrar o amor”, conclui Maura, que agora adotou o sobrenome da mulher e se chama agora Maura de Almeida Moraes Scapolatiello.
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