Pelo mundo

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Jandira Queiroz



Um balanço do FSM de 2011
Cândido Grzybowski
Sociólogo, diretor do Ibase
Entre 6 e 11 de fevereiro de 2011, realizou-se em Dacar, no Senegal, a edição centralizada do FSM. Com mais de 50 mil participantes, de 130 países, foi um fórum que deixa suas marcas no processo iniciado em 2001, em Porto Alegre. Uma grande mobilização na volta do Senegal, com a organização de caravanas, garantiu a presença de importantes delegações de 12 países da África. Foi, no pleno sentido da palavra, um FSM africano, dada a presença de movimentos e organizações sociais de quase todos os países do continente. A destacar especialmente a forte presença magrebina, num momento de insurgência cidadã no países árabes. Aliás, as mudanças no mundo árabe deram aos participantes do Fórum Social Mundial deste ano a sensação mais concreta de estarem conectados com os processos de mudanças reais para que outro mundo seja possível. No entanto, foi, talvez, o FSM mais caótico em termos organizativos. A “ágora” virou cacofonia e muito desencontro, mas não deixou de ser inspiração e, ao seu modo, fortaleceu a determinação dos altermundialistas na luta cívica por mudanças.

Sobre o FSM 2011, quero destacar, antes de tudo, a importância simbólica e política de olhar o mundo a partir de Dacar. A diáspora africana, sob forma de tráfico negreiro de escravos, junto com a conquista, colonização e domínio de povos inteiros pelo mundo, é parte constituinte da civilização moderna, uma de suas condições históricas fundamentais da expansão capitalista, criando países ricos e pobres, desenvolvidos e subdesenvolvidos. A crise de civilização de hoje, neste sentido, não pode ser entendida sem ver como esta civilização industrial, produtivista e consumista, com mercantilização de tudo, em suas ondas sucessivas de globalização, gerou uma África inteira pobre e dependente. A diáspora, sob forma de migração, continua até hoje. O continente africano ainda é celeiro de mão de obra e seus imensos recursos naturais continuam sendo estratégicos aos olhos de grandes conglomerados capitalistas e dos governos imperialistas de plantão a seu serviço. Hoje, particularmente, a China no que tange os recursos naturais e a Europa em termos de mão de obra.

A ilha Gorée, uns 20 minutos de Dacar por barco, é um testemunho vivo do que foi o tráfico negreiro que capturou na África e transportou violentamente mais de 15 milhões de homens, mulheres e crianças – sem contar os que morreram nas “caçadas” humanas no interior do continente  - para o trabalho escravo nas Américas e no Caribe. As portas sem volta das casas de escravos, abertas para o mar, são hoje portas de entrada ao íntimo da gente, a mexer com nossas consciências e nos fazer pensar na nossa responsabilidade por tudo isto. Como brasileiro, a dor bate mais forte, pois o violente tráfico humano da África é o nosso passado, muito presente até hoje. Como é possível que a humanidade tenha inventado tal atrocidade! Mas algo pior que salta aos olhos: será que estamos tratando os migrantes africanos de hoje de forma melhor? Os navios de guerra italianos em Dacar, mirando os pequenos botes de migrantes que partem rumo às Ilhas Canárias, estranha parte da Europa espanhola, ao largo da costa atlântica, não são outra coisa que a versão moderna dos corsários da morte de ontem. De fato, o mundo não pode continuar assim. É hora de mudar esta civilização, clamor que se fortalece cada vez mais no FSM.

Entrando por dentro do FSM, é necessário reconhecer a sua capacidade de mobilizar sempre mais diferentes grupos, organizações e movimentos sociais pelo mundo afora. Rodar o mundo, contagiando gente e trazendo novas identidades políticas e culturais e novas vozes, parece ser o maior segredo da vitalidade do FSM. Quando se pensa que ele está em declínio, eis que ressurge com vitalidade. Este abraçar de novas realidades revelou-se mais uma vez, em Dacar, como fundamental ao processo FSM. Isto tem que continuar, pois ainda existe muito mundo, muitos povos, muita cidadania a ser mobilizada e contagiada pela força da ideia de que outro mundo é possível e, hoje, está no nosso horizonte. Esta é a sua força política. É bom que se registre aqui o que é desconhecido da mídia dominante, o fato da grande mobilização na região do Magreb, tendo realizado 10 fóruns (regionais, nacionais e temáticos) após o FSM 2009 e antes deste FSM de Dacar. Também anoto o efeito energizante nos participantes do fórum das mobilizações cidadãs, com as mudanças políticas que vem provocando, na Tunísia e Egito.
Mas o FSM 2011, em Dacar, revelou, também, a grande fragilidade no interior do FSM. Não fosse o poder da auto organização, uma das suas bases como espaço aberto à diversidade de sujeitos e à pluralidade de perspectivas por outro mundo, o FSM deste ano teria sido um grande desastre. Não estamos conseguindo aprender como organizar logisticamente grandes eventos, com salas e tradução multilíngua – nosso maior desafio, base da defesa do bem comum que é a diversidade cultural –, para acomodar o fórum. Dacar foi caótico, sobretudo nos dois primeiros dias, até que a auto organização encontrou formas de estabelecer o diálogo aberto. O fato é que o FSM foi prejudicado, especialmente para os que não dominavam o francês. O diálogo com organizações e movimentos africanos da África do Oeste foi mais simbólico do que real. Este é um desafio no processo FSM. Não é um desafio externo a ele. Trata-se de algo inteiramente sob a governança de suas instâncias internas de facilitação e organização. Não podemos ser derrotados por algo que tem a ver conosco mesmo! Precisamos deixar de competir para ver quem organiza o melhor fórum e juntar as forças, numa verdadeira obra de cidadania mundial. Um FSM bem organizado é possível. Sim, nós podemos! Mais, o mundo necessita do FSM como força mobilizadora e inspiradora.

Aqui cabe uma pequena reflexão sobre o processo do FSM e seu futuro. Penso o FSM como uma nova onda, onda da nascente cidadania planetária. Mas ondas, como no mar, supõe umas seguindo outras, num movimento de fluxo e refluxo. Para que a primeira onda do FSM, de mobilização e do despertar da cidadania produza uma nova cultura política, que abrace o mundo em sua diversidade e dela tire força, é necessário que o fórum chegue a todos os cantos e povos, na imensa, populosa e complexa Ásia, no Leste Europeu, no Mundo Árabe, no Caribe... Enfim, falta muito mundo para o fórum ser realmente mundial.
Sou dos que acham que o momento atual exige nossa presença, como FSM, na Europa. O FSM começou ancorado na vibrante sociedade civil brasileira. Galvanizou a América do Sul e é um dos pivôs das mudanças políticas aí ocorridas. Mas o fato é que não teria acontecido, não seria mundial, sem o apoio desde a primeira hora dos europeus, especialmente da cidadania ativa, dos sindicatos, organizações e movimentos socais da Europa latina. Com a enorme crise na Europa, especialmente nos países do Sul da Europa, com as esquerdas perdidas e incapazes de se entender, o próprio FSM é afetado. Acho que é a hora das “galeras”, desta vez dos colonizados, voltarem em solidariedade. Não se trata de nova conquista dos bárbaros, mas se trata, sim, da desimperialização das cabeças dos europeus, de sua cultura, como condição de nossa própria descolonização, deseuropeização. Enfim, no que tange o FSM, ele deve continuar como onda que galvazina, que aglutina, que motiva, que convida ao diálogo os diversos e desiguais, incluídos e excluídos, para mudar o mundo. Este se espraiar pelo mundo do FSM depende de circunstância políticas para realmente fincar raízes. Penso que tais circunstâncias existem na Europa e a realização de um FSM mundial em território europeu, como uma coprodução de europeus e cidadãos do mundo, será um fator decisivo para o próprio fórum enquanto arauto de um novo mundo. 

Mas o FSM não pode ficar dependente de grandes eventos pelo mundo afora. Isto precisa continuar, mas é apenas a primeira onda, a desbravadora, o movimento que abre caminho. Outras ondas devem seguir, também parte do movimento FSM. Na verdade, isto já está sendo inventado na prática. Falta pensar estrategicamente a respeito. Entre o FSM de Belém, em janeiro de 2009, e o fim de 2010 foram registrados – talvez haja bem mais, especialmente nacionais e locais – 55 fóruns sociais que adotaram a Carta de Princípios do FSM e se valeram da auto organização de atividades como base da garantia do espaço aberto. A maior parte destes fóruns foi temática. Todos foram puxados por grandes coalizões de organizações e movimentos, por “famílias” sociais, de 3 a 15, e chegaram a contar com a participação de 30 a 1 mil movimentos. Ou seja, a nova cultura do FSM alimenta estes eventos. Desenha-se, além do mais, uma clara dinâmica regional em tais eventos, com destaque para Brasil e América Latina, com quase a metade dos eventos. Neste quadro se destaca a Região do Magreb, responsável por 10 eventos, alguns nos países hoje em ebulição social.

Chamam a atenção entre os eventos os Fóruns Sociais Temáticos. Neles a cidadania organizada se engaja para aprofundar a temática e formular propostas, como segurança e soberania alimentar, migrantes, águas como bem comum, mulheres. Estamos diante de uma inovação do FSM, entre os grandes eventos de caráter mundial, com grandes potencialidades. O que chamo da necessária nova onda do FSM, seguindo a primeira dos eventos centrais, de confluência de todos, tentando abarcar o mundo, está aí esboçada. Precisamos transformá-la em estratégia do FSM. Esta segunda onda, que empurra a primeira e é por ela puxada, precisa ser incorporada conscientemente ao processo do FSM, ao movimento de construção da cidadania planetária. Organizar Fóruns Sociais Temáticos entre os eventos mundiais do FSM, que rodam o mundo, passa a ser indispensável. A usina de ideias em que o FSM se tornou precisa, como processo, de nodos que lhe dão forma mais concreta, que sistematizem as ideias e propostas e que virem referência.
A possibilidade de organizar o FS Temático sobre meio ambiente e desenvolvimento, em janeiro de 2012, em Porto Alegre, tendo em vista a Conferências da ONU Rio + 20, é uma grande oportunidade de experimentar modos de definir condições comuns de funcionamento dos fóruns temáticos no espírito do FSM. Mais, O Fórum Social Temático pode ser uma forma de organizar no Brasil, em Porto Alegre, onde o FSM começou, um dos nodos que alimentará a segunda onda. Está ao nosso alcance, das organizações e movimentos sociais brasileiros, o desafio de enfrentar tal tarefa e, com ela, energizar o FSM como processo. Isto sem perder o objetivo mais imediato que é incidir com força na Rio + 20.
Uma outra Africa é urgente
Entre a Africa do Sul e o Senegal, a organização brasileira do Forum Social Mundial acertou em firmar a posição de realizar esta décima-primeira edição em Dakar. É fundamental para os que militam por um outro mundo possível entrar em contato com a realidade em que o Senegal mergulhou nesses também onze anos de governo de Abdoulay Wade, depois do esforço poético e bem-sucedido de Leopold Sedar Senghor de promover no país ,e propagar pelo continente, o orgulho de suas culturas e a força política do sentido do Panafricanismo.
Abdoulay Wade é o terceiro presidente da República do Senegal. Está com 85 anos e isso não teria a menor importância se seu discurso conseguisse ser compreendido nos dias de hoje. O que não é o caso nem para a esquerda nem para a direita, que lutam por outro mundo. Abdouly é praticante declarado do liberalismo clássico, e não é exagero afirmar que Adam Smith reconheceria nele sua imagem e semelhança. A ala mais intelectual do tucanato brasileiro tenderia, inclusive, a achá-lo um tanto quanto radical.
"Sou um liberal, um partidário da economia de mercado", declarou Abdoulay na mesa O lugar da África na geopolítica mundial, que tratou do tema, na qual também falou o ex-presidente Lula. Senhor de uma autenticidade raramente vista para um chefe de Estado, Abdoulay revelou à audiência que não queria tê-los em seu país por não acreditar nem ver nenhum resultado prático nas ações dos alteromundistas. Mas, já que estavam, que fossem bem-vindos e realizassem suas atividades sem violência. Afirmando sua convicção na eficácia do modo liberal de tratar os problemas, Abdoulay disse que vem discutindo com os organismos financeiros internacionais a proposta de taxar em 20% as operações transnacionais de transferência financeira. E estava confiante. A partir desse momento, teve início o abismo de compreensão entre o que dizia o presidente do Senegal e o público presente. Muitos estrangeiros pensaram ser uma questão de tradução. André Peixoto de Souza, 33 anos, professor de Ciência Política, do Paraná, foi um deles. Verificado que não, dividiram-se entre o constrangimento e o risada abafada. Como "homem que acredita na transformação pelas ideias", o presidente do Senegal relatou ainda, com orgulho, o fato de o país ter um Código de Imprensa aprovado consensualmente entre jornalistas, sociedade e governo, "sem debate". A seguir, elogiou o crescimento econômico do país utilizando a renda per capita como indicador: "passamos de 500 dólares, em 2000, para 1.240 dólares hoje", disse, no melhor estilo liberal, desconsiderando a distribuição da renda como fator fundamental para  o desenvolvimento equilibrado. 
A palestra do presidente Abdoulay Wade forneceu a base teórica da realidade exposta nas ruas de Dakar: indigência traduzida num infinito camelódromo a céu aberto. O Senegal tem 12 milhões de habitantes, 48% desempregados e 67% analfabetos. Agora, Abdoulay tenta a reeleição de seus ideais por meio de seu filho, Karim Wade. Os jovens senegaleses esclarecidos já dizem que o presidente está reestabelecendo o princípio ancestral de império que está na origem dos grupos étnicos. Se Karim vencer, o Partido Democrático Senegalês terá mais quatro anos de exercício da democracia liberal da ordem espontânea do livre mercado. Para o papel que o Senegal vai desempenhar no lugar da África na geopolítica mundial, isso deve significar uma intensa atividade política dos movimentos dos 123 países presentes ao FSM, que vão ter muito o que fazer para que o outro mundo possível não seja um ainda mais incrível mundo novo.
Hoje, entre os 54 países do continente africano, só Africa do Sul e Cabo Verde, que acaba de realizar eleições e garantir a vitória do Partido da Independëncia de Cabo Verde (PAICV), são democracias comprometidas com crescimento traduzido em redução da desigualdade, da fome, da pobreza e do desemprego, e articulados com a preservação ambiental.
Jovens, Internet e política: pensando o uso das novas tecnologias nas mobilizações sociais
Patrícia Lânes*

As manifestações em curso no Egito nas últimas semanas abrem a possibilidade de uma série de reflexões sobre o uso da Internet e das chamadas NTIC (Novas Tecnologias da Informação e Comunicação) nas mobilizações sociais, sobretudo as de massa, nos nossos dias. Artigo de Felipe Corazza, publicado em 03 de fevereiro de 2011 no site da Carta Capital, engrossa o debate falando do papel desempenhado por esses meios, problematizando o fato de terem sido eles os responsáveis pela adesão massiva da população egípcia às manifestações contra o atual presidente do país, o ditador Hosni Mubarak, há três décadas no poder.
Alguns jovens egípcios falam que, através das redes sociais da Internet, a mobilização para a ação nas ruas já vinha acontecendo há mais de um ano. Outros, no entanto, têm uma visão diferente e dizem que com ou sem Internet a população estaria nas ruas. No entanto, aliada às novas tecnologias, a Internet vem cumprindo o papel de mostrar as manifestações para o mundo e conseguir novas adesões. Nas palavras do jornalista e blogueiro egípcio Hossam el-Hamalawy, em entrevista ao professor da Universidade da Califórnia Mark LeVine: “A internet desempenha um papel na difusão da palavra e das imagens do que ocorre no terreno. Não utilizamos a internet para nos organizar. A utilizamos para divulgar o que estamos fazendo nas ruas com a esperança de que outros participem da ação.”
A Internet ou os torpedos (mensagens) via celular, o Facebook ou o Twitter jamais poderiam sozinhos ser responsáveis pelo engajamento de milhares de pessoas a determinada causa. No entanto, eventos recentes, dos quais talvez o Egito seja o caso mais evidente e paradigmático, indicam que não é mais possível relegar o uso dessas tecnologias a uma posição coadjuvante quando se trata de causas coletivas. A relação que sempre aparece nesse debate é entre o uso dessas novas tecnologias e suas ferramentas, espaços de articulação e os(as) jovens.
Aqueles e aquelas que foram socializados nesses novos meios ainda crianças e adolescentes, uma geração que nasceu junto ou depois de celulares, Internet e derivados, têm maior facilidade para conhecer e criar novas possibilidades para seus usos. No entanto, é também muito criticado o uso de tais tecnologias para a publicização da vida privada, que estaria contribuindo para propagar um ethos individualista e consumista. Os meios abrem possibilidades, mas seus usos são orientados pelas ações e idéias disponíveis socialmente.
Estudo recente realizado por Ibase, Pólis e instituições de pesquisa em seis países da América do Sul, com apoio do IDRC, evidenciou que muitas das manifestações públicas lideradas por jovens na última década tiveram forte vinculação com os meios de comunicação (comerciais e as ditas mídias alternativas) e com as novas tecnologias da informação. Muitas ações dos movimentos pressupõem uma face pública, se fazer ver e ouvir pelo restante da sociedade para mobilizar população e pressionar governos, empresas etc. E os meios de comunicação têm papel importantíssimo.

No Chile em 2006, milhares de estudantes secundaristas protagonizaram o que ficou conhecido dentro e fora do país como Revolução dos Pinguins (referência ao uniforme dos estudantes). Eles ocuparam suas escolas por discordar dos encaminhamentos dados pelo governo do país em relação à educação, reivindicando educação pública, gratuita e de qualidade. Além da ocupação física do espaço escolar, a criação de blogs e fotologs das ocupações e do movimento ajudou a dar o caráter nacional e descentralizado da manifestação (que se recusou a ter apenas um porta-voz) e a mobilizar cerca de 800 mil estudantes em dois meses de norte a sul do país. Entre as demais ações estudadas inicialmente pela pesquisa em questão (Juventude e Integração Sul-americana, Ibase, Pólis, 2008), muitas se utilizam de blogs, fotologs e fóruns de debates virtuais para mobilizar e organizar suas ações. Foi o caso do Fórum de Juventudes do Rio de Janeiro, dos jovens sindicalizados do telemarketing, dos grupos de hip hop aymara de El Alto (Bolivia), dos coletivos juvenis ligados ao Departamento de Juventude de Concepción (Chile), dos estudantes secundaristas organizados na Fenaes (Paraguai), de grupos articulados na Coordinadora por la Legalización de la Marihuana (Uruguai) ou dos Jóvenes de Pie (Argentina). Em todos esses exemplos, o uso da Internet e das novas tecnologias de informação e comunicação se combinam a formas “tradicionais” de militância e essas combinações possíveis também trazem pistas de um jeito próprio dessa geração fazer política.

Talvez um dos exemplos mais contundentes e reveladores seja o do Acampamento Internacional da Juventude (AIJ), organizado durante as edições brasileiras do Fórum Social Mundial (FSM), em especial naquelas que ocorreram em Porto Alegre. Ali, as possibilidades de inventar e praticar novas formas de comunicação e novas maneiras de produzir informação rompiam fronteiras e abriam espaços para o diálogo, hoje cada vez mais cotidiano, entre rádio, televisão, Internet, cinema e produções artísticas das mais variadas. Nesse caso em especial, as experimentações com os meios se aliavam a um debate mais denso sobre auto-gestão e a produção, reprodução e disseminação do que é produzido dentro e fora da rede, do qual o software livre é um ótimo exemplo. Ao analisar as formas de participação social dos jovens, Vital e Novaes apontam que: “No âmbito da participação social de jovens, as NTIC (novas tecnologias de informação e comunicação) se tornam instrumentos úteis para a circulação de informações sobre vários temas e causas e, ao mesmo tempo, alimentam novas bandeiras de luta, como os movimentos que lutam pelo software livre (Vital, Novaes, 2005, p. 125)

Recuperando as pistas deixadas pelos últimos acontecimentos do Egito, é possível vislumbrar que as novas tecnologias da informação e da comunicação fazem parte do cotidiano dos(as) jovens, em cada vez maior escala, nos centros e periferias do Brasil e do planeta, sendo “natural” que estejam em seu repertório de sociabilidades e também de lutas e mobilizações. Os jovens não são reféns das tecnologias. Se as formas de sociabilidade foram alternadas a partir da experiência das mudanças tecnológicas, as culturas locais e as formas mais ou menos tradicionais de se fazer política continuam aí. As mobilizações podem acontecer com a ajuda de redes sociais como Orkut, Facebook ou Twitter. No entanto, a ocupação das ruas e espaços públicos ou o fechamento de ruas e estradas continuam gerando a repercussão social e política que tiveram os últimos acontecimentos. E é ótimo que sejam filmados por celulares e difundidos pelo youtube. As implicações políticas e sociais e as mudanças em curso geradas por tais manifestações só estão acontecendo porque o uso das novas tecnologias está sendo, uma vez mais, combinado com a ocupação massiva e permanente de ruas, praças e avenidas!
De acordo com as conclusões da pesquisa Juventudes Sul-americanas, publicadas no Livro das Juventudes Sul-americanas (Ibase, Pólis, 2010) “(...) se é verdade que esta é a geração da “tecnossociabilidade”, é preciso não minimizar a convivência das novas tecnologias com diferentes agências de socialização, tais como a família, bairro, escola, igrejas. A sociabilidade de determinado segmento juvenil é sempre fruto de diferentes combinações de espaços de socialização. Isso porque o “atual” é composto por uma variedade de arranjos entre tradição e inovação, presentes na vida de diferentes segmentos juvenis. Sem levar em conta esses aspectos, corre-se, mais uma vez, o risco de homogeneizar a juventude. Compreender a existência de diferentes dinâmicas no uso das tecnologias é também uma forma de transpor obstáculos para que as chamadas “minorias ativas” (jovens que participam de grupos, redes e movimentos) se aproximem mais da realidade da maioria da juventude de cada país”. ( p.103) Os últimos acontecimentos protagonizados também por amplos segmentos da juventude egípcia é um bom exemplo disso.
*Socióloga e pesquisadora do Ibase
Documentos e páginas eletrônicas consultados:
6 demandas para a construção de uma agenda comum: relatório sul-americano da pesquisa “Juventude e Integração Sul-americana – caracterização de situações-tipo e organizações juvenis”, Ibase, Pólis, 2008.
BOL Notícias, “Último provedor de internet  do Egito deixa de funcionar”. 31 de janeiro de 2011.

Corazza, Felipe. “A revolução é online e offline”. Site da Carta Capital, 3 de fevereiro de 2011.

IG/ New York Times/ Luis Nassif Online. “O grito de guerra online no Egito: Jovens impulsionam apelo para expulsar líder do Egito”, 29 de janeiro de 2011.

La Demanda Secuestrada – Situacion tipo del Movimento Estudantil Secundario, CIDPA, Chile, 2007.

Novaes, Regina; Ribeiro, Eliane. (orgs). Livro das Juventudes Sul-americanas, Ibase, Pólis, 2010.

Novaes, Regina. Vital, Christina. A juventude de hoje: (re)invenções da participação social. In: Thompson, Andrés A. (org.) Associando-se à juventude para construir o futuro. São Paulo: Peirópolis, 2005.

O Recôncavo, “Al- Jazeera: Jornalista e blogueiro egípcio fala sobre rebelião”, 1º de fevereiro de 2011.

Homicídio é a principal causa de morte de jovens no País


Mapa da Violência 2011 – Homicídio é a principal causa de morte de jovens no
País

http://www.viablog.org.br/mapa-da-violencia-2011-%e2%80%93-homicidio-e-a-pri
ncipal-causa-de-morte-de-jovens-no-pais/


EcoDebate

Relatório sobre impactos da Transposição do Rio São Francisco é lançado em Recife

A comunidade quilombola Cupira, localizada no município de Santa Maria da Boa Vista, sertão pernambucano, terá o seu território completamente inundado em consequência da construção da barragem de Riacho Seco, uma das obras que integra o grande projeto de transposição do Rio São Francisco. Ainda que as obras de construção da barragem não tenham sido iniciadas, as 250 famílias que formam a comunidade – que ainda luta para ter o título de seu território -, já sentem os impactos deste grande projeto e sofrem com a falta de informação. Os quilombolas chegaram a procurar por diversas vezes o Ministério de Integração Nacional para obter informações sobre o futuro da comunidade, mas não foram recebidos nenhuma das vezes, nem têm qualquer expectativa de quando terão seus direitos reparados.
“Essas Grandes empresas entram em nossa comunidade e nos impõe tudo, passam por cima de nosso território. Esses são empreendimentos que não vem pra trazer benefício para a população, e sim para explorar e desrespeitar o nosso direito de viver. Durante os 200 anos de existência da comunidade, não houve nenhuma preocupação por parte do governo em garantir políticas públicas que beneficiassem as famílias”. Explica a quilombola da comunidade e integrante do Movimento dos Atingidos por Barragens, Fernanda Rodrigues.
Este, assim como dezenas de outros casos de violação dos Direitos Humanos causados pela Transposição do Rio São Francisco em comunidades tradicionais, quilombolas, indígenas, ribeirinhas e camponesas encontram-se sistematizados no Relatório da Missão à Petrolina e região do rio São Francisco (PE), realizado pela Relatoria do Direito Humano à Terra, Território e Alimentação, da Plataforma Dhesca. O documento foi lançado na tarde desta última terça-feira, dia 22, na Assembleia Legislativa, em Recife, e contou com a participação de diversas organizações e movimentos sociais. Durante o lançamento, o relator do documento, o sociólogo Sérgio Sauer ressaltou que “ são centenas de comunidades atingidas sem o reconhecimento de seus direitos básicos como o de auto-reconhecimento, o direito à terra e território, saúde, educação, informação, alimento e à água. É um investimento grandioso, com uma imensa quantia de recursos públicos e de capital humano para realizar uma obra que viola os direitos mais fundamentais da população”.
Sério Sauer destacou que um dos principais direitos violados é o da terra e território e o direito à informação: Muitas comunidades sabem que serão completamente dizimadas, como é o caso do quilombo de Cupira, mas não recebem informações sobre as obras que inundarão seu território e nem sequer foram ouvidas durante o processo. De acordo com a convenção 169, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário, todas as comunidades tradicionais que tiverem algum tipo de impacto com a construção de obras, incluindo as públicas, deverão ser consultadas durante todo o processo e serão elas que por fim decidirão se querem ou não ver alguma grande obra impactar o seu território.
Para o coordenador da CPT nacional, Padre Hermínio, que também esteve presente no lançamento, a lógica do projeto de Transposição do Rio São Francisco além de todos os fatores já colocados, é a de distribuição vertical das águas, privilegiando as grandes empresas e não garantir o abastecimento para as comunidades, para a população em geral. “Este projeto também fere a nossa cultura, as iniciativas populares de convivência com o semi-árido, o conhecimento tradicional e os territórios das comunidades tradicionais” ressaltou.
Além da denúncia de violações, o documento também pretende incidir sobre os órgãos públicos responsáveis através de uma série de recomendações que possam combater a violação dos direitos humanos. Órgãos do Governo que estão envolvidos na obra, como a Chesf, o Ministério de Integração Nacional, Minas e Energia, Iterpe e o Incra, por exemplo, além dos próprios parlamentares, foram todos convidados a participarem do lançamento, mas nenhum desses esttiveram presente na ocasião.
Informe da Comissão Pastoral da Terra – Regional NE II, publicado pelo EcoDebate, 25/02/2011
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Raul Motta
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"É fácil pensar, é difícil agir, mas agir segundo o próprio pensamento é o mais difícil" [Göethe]
bloco A Mulherada
Venha brincar com consciência  neste carnaval  no bloco A Mulherada, que vai homenagear as mulheres do século XXI, durante 3 dias.Preparamos um belíssimo desfile na quinta- feira  com 150 percussionistas e uma  ala de com 200 dançarinas e sua presença é muito importante!

Serviço:
Bloco A Mulherada Tema: Mulheres do século XXI e a percussão no feminino
Onde:
Campo Grande Horário: 20 hs  - local –– dia 3/03/2011
Barra Ondina Horário: 21 hs  - local –– dia 6/03/2011
Barra Ondina Horário: 23 hs  - local –– dia 8/03/2011

Ultima Data da entrega da fantasia: 28/02/2011 ,  a entrega será mediante a entrega de 01 LATA DE LEITE EM PÓ E 01 PACOTE DE FRALDA GERIATRICA

LOCAL DA ENTREGA DAS FANTASIAS: Rua do Tesouro, 39 1° andar – Centro -  referência em frente  a secretaria Municipal da Fazenda  (SEFAZ)  - prédio Amarelo

Horário de entrega das fantasias: Das 14 h às 17 horas
Estrutura do Bloco: Trio elétrico, Segurança e cordeiros , Banda a Mulherada e convidados
Outras informações: 33275167 / 99259529 /8829529
amulherada@terra.com.br

Tocar pode. Bater não! Diga não a violência contra as mulheres.




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