LANÇAMENTO LIVRO "MULHERES NEGRAS CONTAM SUAS HISTÓRIAS" Depoimento autora

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Ontem, dia 06 de novembro de 2013, foi o lançamento do livro de coletâneas de textos e ensaios ganhadores do Prêmio "Mulheres Negras Contam sua História", uma realização da SPM em Parceria com a SEPPIR/PR. Não podia ser diferente, o livro foi lançado na III CONAPIR.
Confesso que nem esperava que a publicação fosse sair tamanhos os entraves para empenhos e outras burocracias que a gestão cria para a própria gestão, para se fazer acontecer tem que haver muita força de vontade de servidores e gestores para que algum edital, premiação ou outro projeto que não esteja no campo prioritário do planejamento governamental, isto é, Econômico ou que traga algum retorno para o Estado, que de propaganda e assim reflita na mídia e assim possa servir para a opinião pública avaliar se o governo está ou não está apto seja para a releição, seja para ganhar apoio para que o partido da situação continue na gestão. Pois bem, saiu o livro, pois bem ele foi lançado na III CONAPIR, que para mim, hoje não trás nenhuma novidade no campo do controle social, salvo alguns ativistas "louc@s", que quebram os protocolos e os acordos de "camarinha" e fazem estas conferências hoje, fazer alguma diferença no dia a dia, neste caso da população negra.
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Cabe salientar, que estava assistindo a abertura do Evento que contou com a presença da presidenta Dilma, que de supetão resolveu ir até a conferência, por isto, para quem não entendeu, a dificuldade de quem não era delegado de entrar no evento...mas como estava descrevendo, assistindo a abertura me surpreendeu, me representou uma delegada negra que foi ao encontro da Presidenta Dilma e lhe entregou aquilo que parecia uma carta e ali parou conversou coma presidenta que não estava gostando nada, nada do que estava sendo lhe dito e sendo entregue, pois é, me representou, aquela negra retirada sem violência, mas condizida para longe da Presidenta, gritou algo e quando se vira, pois ela estava tão simples, perto da maioria dos delegados da conferência que mostravam seus axós elegantes e turbantes, ela, uma calça jeans e uma camiseta com os dizeres "SOMOS TODOS QUILOMBO DOS MACACOS", pois é, era uma autêntica Quilombola. me representou, quebrou protocolo, entregou a carta e meteu a boca na Presidenta, obteve apoio e solidariedade dos/das delegadas presentes, óbvio que não, se obteve foi de sua delegação e de uns poucos, para mim deveria ter sido de todo o plenário, pois a situação dos quilombolas, dos terreiros e casas de matriz africana, não tem como ficar calados sem apoiar quem teve coragem de quebrar o protocolo para reivindicar o que lhe é de direito e que muitos presentes ali também sofrem diariamente, de ameaças de morte, limitação de andar em suas próprias terras, depredação de seus terreiros...sim, ela é uma candace ainda viva que fez seu dever em uma conferência, neste caso a III CONAPIR.
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Assim, no outro dia lá estava eu, que queria passar longe desta conferência, sendo recebida como celebridade o que não sou e se neste dia fui, dedico a minha mãe, pois foi através da história que conto de sua vida que fui agraciada pela menção honrosa, do prêmio acima citado, Dita- Identidade Quilombola. Foram cinco horas entre o lançamento, a fala e a sessão de autógrafos, escrevi até não puder mais, me senti, me emocionei, me orgulhei e principalmente vi e conversei com muitas mulheres que me inspirei na vida e na descoberta enquanto mulher negra que sou hoje e muitas desconhecidas que ainda estão engatinhando no ativismo nacional,mas que estavam ali na sua simplicidade compartilhando daquele momento e com elas também me senti acolhida, senti minha mãe, que ainda viva estava em sua labuta na cidade em que vive,Porto Alegre e com a ausência dela fisicamente brinquei, brindei e distribui autógrafos, me diverti com as Yás, Quilombolas, Babas, Jovens, indígenas e ela que me cativou no dia anterior via link, seu nome: Rose, uma das delegadas do quilombo dos macacos,que conversando descobri que não sabia ler e nem escrever e que buscava alguém para lhe escrever uma moção, me ofereci,mas nos desencontramos, aliás, todas as delegadas do quilombo dos macacos são analfabetas, lembrei de mamãe outra vez, de minhas tias, de outras mulheres quilombolas, me emocionei outra vez e no ato da sessão de autógrafos senti que sou uma vencedora, que elas são umas vencedoras e que TODAS SOMOS QUILOMBO DOS MACACOS! 

maeE é por estas e outras razões que me sinto privilegiada, mas não para seguir meu caminho individualmente, cuidando apenas do meu umbigo ou fazendo discursos ou projetos que enganem minhas ancestrais, minhas irmãs, meu povo. Não! eu acredito na troca; acredito que se cheguei aqui é por conta da força, do sacrifício, da perseverança de minha mãe, em me dar caráter, educação e senso de ética e esta tríade é minha base que me dá força para desbravar brasis e compartilhar esta pouca sabedoria, mas que compartilha o que sabe para dar autonomia á estas mulheres, candaces, ancestrais vivas que lutam diariamente pelos direitos de suas comunidades, mesmo sendo em sua maioria analfabetas, sabem e lutam da forma como suas ancestrais lhe ensinaram e assim seguimos até todas estarmos libertas com os nossos.
A redação DITA - IDENTIDADE QUILOMBOLA, vai primeiramente para ela, minha rainha, minha mãe e segue para as mulheres negras quilombolas e Yás que batalham dia a dia contra o racismo, a intolerância religiosa, o machismo e a homolestransfobia nas comunidades em que vivem. 
uito Axé!
                                      




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